24 de dezembro de 2011

O real impossível

O alimento chega-lhe à mão através do amigo,
O amigo que lhe oferece seu cais
Apesar de este ser indigente, anacrónico e antigo,
Serve inteiramente para aqueles dois seres especiais.

Um benfeitor e um antigo mendigo
Juntos tornam os ensejos jamais iguais;
Tornam o Averno num jazigo;
Tornam as lixeiras em preclaros rosais;

Tornam os burgaus em espigo;
O árido em trigo;
A insignificância em algo mais;
E as fantasias tornam-se reais.

Jamais estes dias serão banais,
Eles não olham para o seu umbigo
Amparando os sem-abrigo
Sem lar devido à crise que conveliu o país.

Dário Andrade

25 de outubro de 2011

Alucinação

Acordo deste sono infindável devido ao cantarolar do gado e ao mugir dos galos. Levanto-me dos lençóis com serenidade e a rebimba habitual, perguntando-me porque não consegui dormitar somente mais um pouco. Dirijo-me para a casa de banho, seguindo a rotina matinal, rego o rosto com água e sabão secando-o de seguida com uma delicada toalha azul-turquesa. Ao mirar o incandescente espelho, reparo em algo de estranho na minha face. Os reflexos dos meus olhos estão menos refulgentes, as manifestações faciais menos patentes e o sorriso menos resplandecente do que o usual. “Como aconteceu isto da escuridão para a luz?”, perguntava-me ao ver as colossais disparidades.
Tento reviver as utopias da noite anterior para descobrir simples respostas às minhas questões intrincadas, todo este zelo leva-me ao néscio. Não me recordo dos sonhos, não deparo com as tão almejadas respostas, o raciocínio tarda em aparecer neste alvorecer sombrio como se ainda residisse na cegueira. Lembro-me bem dos ufanos dias em que o pensamento surgia de forma espontânea. O que quer que se passe hoje comigo, consegue cegar a razão mas não consegue delir as reminiscências.
Já me questionei, se todos estes sintomas podem ser derivados de uma enfermidade. Perscruto em enciclopédias, manuais e até na Internet, não deparo-me com nada de grave mas algo me chama a atenção, algo descrito como “processo de desgaste do corpo, depois de atingida a idade adulta”, ou seja, a ancianidade. Nos indícios estão todos os anteriormente vistos por mim, sendo encarados como índices de um desmedido cansaço anímico e emocional. Nos físicos constam a manifestação de pêlos alvos e das tão alcunhadas plicas. Ao descobrir isto, corro instantaneamente de novo para o espelho à indagação de cabelos brancos e encontro cerca de meia dezena deles. Fico paranóico com esta situação, interrogando-me constantemente como é possível que aos 19 anos de idade já aduzir vestígios de canície. Custa-me tanto a crer nesta situação. Entro em estado de choque com ideias confrontadas com a exequível concisa partida que poderá estar para advir.
Então depois de absorver toda esta situação interrogo-me: “Se estou a ficar arcaico, então como a razão há escassas horas brotava de forma congruente? E se a penúria de fulgor, a menor expressividade e a maior lividez estão relacionados com a escassez de veemência? Mas se repousei tão bem como posso ter falta de energia? Claro, o pequeno – almoço!”
Dirigi - me para a cozinha e aprestei um preclaro pequeno – almoço, opulento em prótidos e em hidratos de carbono, para reabastecer todo o meu canastro de força. Ao concluir esta tão indispensável ágape, dirigi-me novamente para o espelho e enxerguei que tudo voltava ao habitual, compreendendo que tudo era um malfazejo desvairamento, contemplando fervorosamente o meu jovem semblante. Reparei que os filamentos ebúrneos não tinham sumido, afrontei - os como uma sequela de todo o saber que tenha obtido. Até porque ter cabelo grisalho não denota carência de tempo de vida. Recita uma extensa vida de conhecimento e de experiência. Porque embranquecer não é falecer mas sim viver!

Ass: Dário Andrade

14 de julho de 2011

Perfeição

O cabelo voava ao vento como se de uma andorinha se tratasse,

O belo contraste entre o negro do filamento e a esplêndida face alva.

Os lábios encontravam-se encarnados esbatendo um sorriso brilhante,

Os olhos irradiavam um brilho que demonstrava o quanto estava ditosa.


O rosado da camisola assentava-lhe na perfeição, realçando a sua colossal classe.

Os jeans azuis destacavam as suas irrepreensíveis formas, fazendo-a sentir calva

Aos olhos de quem contemplava a sua formosura estonteante.

Ela, tão bela mulher, sentia-se como se fosse uma soberba rosa.


E é esta linda diva, que me faz suspirar pela sua presença,

É ela que faz com que as palavras rimam novamente,

É ela a cura da minha doença,

É ela que me faz sorrir espontaneamente.


Ass: Dário Andrade

1 de maio de 2011

Ira

É a ira a explodir nas entrelinhas destes vocábulos,
Fluindo pela tinta preta da esferográfica de metal.
Não a consigo ver no concreto muito menos no abstracto,
Como poderei combater algo que não alcanço?

Todas as folhas machucadas são a prova do falhanço,
Falhanço de não conseguir elaborar o meu auto - retrato.
Ela corre-me no sangue tornando-me cada vez mais mortal
Destruindo todos e quaisquer glóbulos.

A asfixia torna-se cada vez mais sufocante e dolorosa,
O oxigénio não circula e vejo tudo de forma pouco nítida.
Ela corrói-me por dentro como se fosse um ácido
Deixando cada vez mais inconsciente, sem forças para a combater.

Se era esse o seu objectivo, sinto-mo sem carácter,
Tento perceber se estou vivo mas nem sinto a carótida,
Vejo um reflexo em que luto para me manter lúcido
Mas acabo por perder a batalha, colocando na aura uma rosa.


Nota: aqui vos deixo o último texto que consegui escrever e possivelmente o último a ser redigido por mim. Também vos anuncio que o blog deixará de ter a minha colaboração. No entanto espero que Diamantina Ormonde continue na gestão deste espaço cibernético, não deixando morrer a tradição. Um muito obrigado a todos os que me apoiaram.

Ass: Dário Andrade

9 de abril de 2011

Mais um dia com palavras

Mais um dia com palavras

Hoje, é mais um dia, claro que estou farta de estar fechada dentro destas quarto paredes. Durante uns momentos esqueço-me do que estou a fazer e a ouvir e começo a recordar-me de questões que habitam-me no meu pensamento.

Irei, um dia, ser orgulho de alguém?
Irei, um dia, ser heroína de alguém?
Irei, um dia, ser inimiga de alguém?
Irei, um dia, ser o porquê de alguém?

Na lembrança tenho momentos, de dias, só são dias, mas importantes é a minha vida. Fui, Sou e Irei ser sempre eu, em mais um dia.
Hoje sinto-me perdida na esperança fico sem nada, apenas com o palavras!
Por vezes, nem sei quem sou … estou comigo e ao mesmo tempo sem mim.
Queria juntar palavras para descrever as minhas angústias ou ansiedades, agonias ou desesperados mas nada descreve o que sinto mas palavras ditas, o vento leva; palavras escritas, a chuva molha; palavras pensadas o pensamento esquece.
Para quê palavras?
Com momentos conseguimos dizer tudo o que mais queremos, fazendo com que os momentos sejam inesquecíveis pois quem ama acredita.

Um dia, só mais um dia, os outros usam fúria por estarem fechados, eu uso imaginação porque meu pensamento penetrante, na verdade é porque me sinto só, em mais um dia.

Ass: Diamantina Ormonde

5 de abril de 2011

Estarei aqui...

Quando te sentires infeliz ou assustada
Sabes onde me encontrar, estarei aqui ao teu lado.

Quando sentires que já não és amada
Saberás que estou aqui, mesmo aqui ao teu lado.

Cada passo dás, estarei por perto para te ajudar
Estarei aqui mesmo contigo, mesmo ao teu lado,
Quando pensares que ninguém te vai amparar,
Eu cá estarei para conseguires esquecer o passado.

Quando as lágrimas fluírem por esse airoso olhar,
Cá estarei para apanhá-las, estarei lá para te proteger.

Quando não conseguires respirar,

Estarei aqui para respirar por ti, para que não voltes a sofrer.


Quando não tiveres mais ninguém para desabafar

Estarei aqui junto a ti, irei-te ajudar a sorrir.

Quando tiveres feridas para sarar

Sabes que estarei aqui, para não te voltarem a ferir.

Ass: Dário Andrade

7 de março de 2011

Apenas como eu sou

Não venho com caução nem tenho a pretensão de ser alguém perfeito porque toda a perfeição não posso ter, aliás toda a perfeição não existe por mais que se queira.
Eu sou como todas as outras pessoas, sou da espécie humana, única espécie que é capaz de errar. O erro não é a falha de carácter … Errar faz parte da Natureza Humana.
Eu vivo, eu sorrio e eu também aprendo com os meus erros pois meu conhecimento é inacabado e nunca vai ser completo.
Estou à procura de todo o tempo do mundo, nas horas acordadas e nas horas de sono, eu tenho um longo caminho a ser percorrido, assim como tu tens.
Aprendemos nossas lições pelo caminho e atingiremos quem somos, por isso aceita-me como sou porque eu sou só eu, apenas eu com muitos defeitos mas também algumas virtudes.
Não há ninguém idêntico a mim no mundo, esta é a única garantia que te dou agora pois é assim que eu me sinto.
Eu tenho um coração e com ele aprendi que a vida poder mudar em um instante.
Ele é tudo que eu sou, apenas eu. . .

Ass:Diamantina Ormonde

1 de março de 2011

Relincho

Preso numa jaula, estava um animal ébrio
Tentando fugir daquela imposição. Relinchava
Para tentar salvar a sua náiade.
Vendo-a sofrer até ao último estertor.

O seu relincho propagava-se pelo vazio,
Como um buraco negro que destruia tudo o que se aproximava.
Lutava a todo o custo para acabar com aquela crueldade,
Tentando fazer com que sua potra não sentisse dor.

Libertou a sua famosa forma alada
Resurgindo no meio do crâneo, o chifre emblemático.
Pegassus, reencontrara-se novamente.
Escapando daquela jaula que o tornara violento.

Pegassus, destruiu a armadilha que vitimava a sua amada,
Libertou-a e correram juntos para longe do problemático
Destruindo assim todo o ódio existente,
Voando em liberdade ao sabor do vento.
Ass: Dário Andrade

22 de fevereiro de 2011

Emoções

Vagueio pelas memórias de um passado inesquecivel,

Sentindo todas as palavras, ouvindo todas as emoções.

Porque é que esses momentos nunca passaram de um sonho impossível?

Como irei esquecer estas dolorosas e tristes ilusões?

Tento reinventar tudo aquilo que senti, para me sentir melhor.

Mas o tempo vai passando, sem nunca te conseguir esquecer.

As memórias continuam a desvanecer

Nos sonhos que vou reinventado, gostando cada vez mais da dor.

Reinvento tudo com todo o tipo de mulher,

Tentando voltar a sentir todo aquele teu carinho.

Mas não consigo senti-lo, não te consigo esquecer,

Sei que te prometi que iria seguir o meu caminho,

Mas todas as nossas emoções foram quebradas?

Porque haveria essa promessa de se manter?

Porque haveria eu te querer esquecer?

Sabendo que todas as emoções estão ainda guardadas.

Ass: Dário Andrade

1 de fevereiro de 2011

Utopia

Ouvi um suspiro ao meu ouvido, olhei em redor mas nada vi
Procurei nas entranhas do meu ser e nada descobri.
Consegui entender que era algo que me era desconhecido
Algo que me carecia na vida, algo que me é realmente querido.

Voltei a sentir uma respiração junto ao meu peito
Olhei novamente em arrabalde, mas nada espreitei.
Tive uma intuição que era algo próximo do perfeito,
Algo que perfazia a minha existência, algo que nunca antes amei.

Inquieto com tanto arcano, continuei acordado
Na esperança de encontrar aquilo que tanto procuro.
Mas nada apareceu na escuridão, nada apareceu vindo do passado,
Nada surgiu no meu deserto, nada apareceu vindo do futuro.


Quando realmente me apercebi da realidade, quando realmente acordei
Entendi que aquilo que sentira era mera alucinação,
Era algo que sempre quis ter, algo com que sempre sonhei.
Era uma utopia que tivera para adoçar a minha solidão.

Ass: Dário Andrade