25 de outubro de 2011

Alucinação

Acordo deste sono infindável devido ao cantarolar do gado e ao mugir dos galos. Levanto-me dos lençóis com serenidade e a rebimba habitual, perguntando-me porque não consegui dormitar somente mais um pouco. Dirijo-me para a casa de banho, seguindo a rotina matinal, rego o rosto com água e sabão secando-o de seguida com uma delicada toalha azul-turquesa. Ao mirar o incandescente espelho, reparo em algo de estranho na minha face. Os reflexos dos meus olhos estão menos refulgentes, as manifestações faciais menos patentes e o sorriso menos resplandecente do que o usual. “Como aconteceu isto da escuridão para a luz?”, perguntava-me ao ver as colossais disparidades.
Tento reviver as utopias da noite anterior para descobrir simples respostas às minhas questões intrincadas, todo este zelo leva-me ao néscio. Não me recordo dos sonhos, não deparo com as tão almejadas respostas, o raciocínio tarda em aparecer neste alvorecer sombrio como se ainda residisse na cegueira. Lembro-me bem dos ufanos dias em que o pensamento surgia de forma espontânea. O que quer que se passe hoje comigo, consegue cegar a razão mas não consegue delir as reminiscências.
Já me questionei, se todos estes sintomas podem ser derivados de uma enfermidade. Perscruto em enciclopédias, manuais e até na Internet, não deparo-me com nada de grave mas algo me chama a atenção, algo descrito como “processo de desgaste do corpo, depois de atingida a idade adulta”, ou seja, a ancianidade. Nos indícios estão todos os anteriormente vistos por mim, sendo encarados como índices de um desmedido cansaço anímico e emocional. Nos físicos constam a manifestação de pêlos alvos e das tão alcunhadas plicas. Ao descobrir isto, corro instantaneamente de novo para o espelho à indagação de cabelos brancos e encontro cerca de meia dezena deles. Fico paranóico com esta situação, interrogando-me constantemente como é possível que aos 19 anos de idade já aduzir vestígios de canície. Custa-me tanto a crer nesta situação. Entro em estado de choque com ideias confrontadas com a exequível concisa partida que poderá estar para advir.
Então depois de absorver toda esta situação interrogo-me: “Se estou a ficar arcaico, então como a razão há escassas horas brotava de forma congruente? E se a penúria de fulgor, a menor expressividade e a maior lividez estão relacionados com a escassez de veemência? Mas se repousei tão bem como posso ter falta de energia? Claro, o pequeno – almoço!”
Dirigi - me para a cozinha e aprestei um preclaro pequeno – almoço, opulento em prótidos e em hidratos de carbono, para reabastecer todo o meu canastro de força. Ao concluir esta tão indispensável ágape, dirigi-me novamente para o espelho e enxerguei que tudo voltava ao habitual, compreendendo que tudo era um malfazejo desvairamento, contemplando fervorosamente o meu jovem semblante. Reparei que os filamentos ebúrneos não tinham sumido, afrontei - os como uma sequela de todo o saber que tenha obtido. Até porque ter cabelo grisalho não denota carência de tempo de vida. Recita uma extensa vida de conhecimento e de experiência. Porque embranquecer não é falecer mas sim viver!

Ass: Dário Andrade

1 comentário:

  1. "Porque embranquecer não é falecer mas sim viver!" Ora nem mais :))
    Muito bonito o texto, está diferente dos habituais, mas original. Gostei bastante mesmo=)
    Keep Going, we're waiting :P

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